Não é nem o caso de querer ser super rycah. Mas eu queria sim poder passar uns dois, três meses, só dessa vez, flanando. Dormindo em hotel. Comendo bem. Ouvindo as pessoas falarem línguas estranhas sem me preocupar com o que está sendo dito, nem ali, nem longe, onde chamo casa. Esquecer o tempo em uma esplanada, bebericando xicrinhas minúsculas de café. Mergulhar em piscinas geladas e oceanos mornos. Passar um dia inteiro contemplando as Ninféias e expulsando todo doer em lágrimas e me deixando preencher por azuis, doçuras e esperança. Comprar tomates graúdos na feira e ficar toda uma noite vendo o caldeirão borbulhar um perfumado molho em uma cozinha emprestada de ancestrais alheios. Descobrir pimentas, milhos, legumes e frutas de texturas e cores que eu, nunca, nunquiha. Só isso por agora, uns dois, três meses, flanando. Pronto, joguei pro universo. Vai que.
Li o livro Lia, do Caetano Galindo. Ousado, interessante e com uma daquelas personagens de quem a gente sente saudades.
Vai chegar o dia em que esquecerei seu rosto, seu corpo, o prazer, a palavra, as madrugadas, os anseios, o conforto, esquecerei seus dedos, sua boca, sua temperatura, seu nome, seu sexo, seu timbre, seu time, seu toque, esquecerei o encontro, a alegria, o gosto, o gozo. Vai chegar. Esquecerei. Será, então, um pretérito perfeito.
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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